🇵🇹 Monstra 2025 - A Curadoria de António Alves
O Festival Monstra celebrou os seus 25 anos de existência com toda a pompa e circunstância no passado mês de Março, repleto de actividades para assistir e participar, tal como nos anos anteriores. Como espectador frequente do festival há pelo menos seis anos, esta edição foi forte em aspectos que destacam o Monstra de outros festivais que ocorrem em Lisboa, como os workshops e masterclasses, e uma programação com base no país convidado, este ano sendo a Áustria, que levou-me a conhecer melhor este país que, relativo aos seus vizinhos, conhecia pouco da sua obra. A vertente educativa do festival permanece forte.
Contudo, considero que a selecção de curtas-metragens soube-me a pouco na edição deste ano. Não é uma má programação, longe disso, mas com o ano passado marcado pelo festival de Annecy, e a forte selecção de filmes do festival Cinanima em Espinho, a Monstra acabou por ter uma selecção deveras previsível. Os filmes vencedores mereceram os lauréis, mas considero que muitos dos filmes em competição na Monstra merecem igual atenção, e é um grande receio meu que muitos destes irão ficar esquecidos no tempo.
Dito isto, decidi destacar os filmes que ficaram na corrida, recomendando a visualização destes, quer num festival futuro, quer em casa. Começando com:
Perspectivas Curtas
Considero esta categoria recente do festival como o Un Certain Regard da Monstra. Os filmes que não chegaram a ter votos suficientes para a selecção oficial, contudo a qualidade destes garantiu a criação desta competição e, para ser sincero, considero a selecção do Perspectivas deste ano superior à selecção oficial.
Yuck!, de Loïc Espuche da França, foi o grande vencedor das Perspectivas Curtas, um filme engraçado que chegou a ser nomeado a um Óscar. Contudo, dou destaque aos seguintes filmes:







Menções honrosas vão para Sapatos e Cascos, da realizadora húngara Viktória Traub, cujo conceito tem o potencial de dar origem a uma antologia de curtas ou até mesmo uma longa, Fusion, do canadiano Richard Reeves, que mantém o espírito experimental de Norman McLaren vivo, Ervas Daninhas, da realizadora checa Pola Kazak, e O Canto das Sereias, do italiano Gianluigi Toccafondo, que exploram o amor materno de formas completamente distintas.
Competição Estudantes
Pode parecer estranho dizer isto, mas as competições de estudantes são as minhas favoritas em festivais de animação, quer na Monstra quer no Cinanima. É fascinante ver trabalhos feitos por jovens adultos, ainda em formação, com productos finais com uma qualidade comparável ou até mesmo superior a filmes feitos por profissionais.
Os filmes premiados incluem O Gato, a Raposa e o Lobo de Aurore Muller Feuga (França), Enlatado de Hasse Van Overbeke (Bélgica), Detlev de Ferdinand Ehrhardt (Alemanha), The Bird from Within de Laura Anahory e Cherry, Passion Fruit de Renato José Duque (ambos de Portugal). Contudo, existem outros filmes que merecem reconhecimento pela sua destreza técnica e valor emotivo. Filmes como:







Menções honrosas vão para ZONA BRANCA, um filme de terror de Maria Minaeva, Carole Naegelen, Marie-Ange Lombard, Marie-Lys Mathias, Enola Pardon, Sarah Bernu, PARA SEMPRE, uma aventura cómica de Théo Djekou, Pierre Ferrari, Cyrine Jouini, Pauline Phillipart, Anissa Terrier, ambos feitas em escolas de renome em França, LOUCURA, uma comédia surreal do russo Saule Matvienko, RECORDAR, uma história passada no Chile de Pinochet, contada pela realizadora Carolina Cruz, e UM PEQUENO COTÃO NO MEU JARDIM, do sul coreano Bom Kim.
Selecção Oficial
Este ano a competição de curtas da Monstra destacou-se por não ser tão forte comparado com edições anteriores. Isto deve-se ao facto de ser maioritariamente constituído por filmes que estiveram no Cinanima, como também de incluir uma quantidade notável de filmes portugueses, inclusive co-produções. Com estas repetições causa-se uma enorme fadiga para os espectadores de ambos os festivais, independentemente da qualidade dos filmes.
Dito isto, os filmes vencedores foram merecidos, se um pouco previsíveis, com Homens Bonitos, de Nicholas Keppens (Bélgica), O Carro que Voltou do Mar, de Jadwiga Kowalska (Suíça), e Percebes, da Laura Gonçalves e Alexandra Ramires (Portugal), já terem ganho palmarés em Annecy e/ou no Cinanima. Outros filmes da selecção bem podiam ter ganho se não fosse essa vantagem, tais como:







Menções honrosas incluem Círculo, de Yumi Joung (Coreia do Sul), LOCA, de Véronique Paquette (Canadá), O Cravo Bem Temperado, de Anna Samo (Alemanha), Panorama Silencioso, de Nicolas Piret (Bélgica), Linha Circular, de Renuka Shahane (Índia), e Milagre Miserável, de Ryo Orikasa (Japão, França).
Prémios Vasco Granja
Pela primeira vez na história do festival, a competição portuguesa foi dividida em duas partes, devido à quantidade de submissões que receberam. Por conseguinte, fizeram também algo inédito: a inclusão de filmes de estudantes. Como era de esperar, Percebes de Laura Gonçalves e Alexandra Ramires, da BAP, foram as grandes vencedoras, com Amanhã não dão Chuva de Maria Trigo Teixeira, da Aim, sendo a vencedora do Prémio Especial do Júri. Filmes com qualidades soberbas, no entanto considero que dois filmes nesta competição mereciam igual atenção:
Menções honrosas vão para o filme VENI VIDI NON VICI, da realizadora Leonor Calaça, que explora a tauromaquia a partir de uma conversa de esplanada, literalmente, e o videoclipe PAULINHA, realizado por Ana Marta Mendes d’Os Filmes do Pinguim, um filme que tira proveito da letra da canção de Raul Manarte, e faz dela uma história caricata que vale a pena ver e ouvir.
Veredicto
Uma selecção de filmes não vai satisfazer toda a gente. Comparado com edições anteriores, a escolha das curtas metragens teve o azar de fazer competição directa com o Cinanima, o que leva a uma fadiga do público que frequenta ambos os festivais, quer como espectadores, quer como cineastas e/ou organizadores de outros festivais. Este ano notou-se um número considerável de filmes repetidos na selecção oficial de ambos os festivais, cerca de um em três filmes, já para não falar nos filmes portugueses que foram exibidos na competição de curtas da Monstra e nos Prémios Vasco Granja.
Dito isto, esta foi a única falha que considero grave numa edição que foi, como todas as outras, cheia de actividades e surpresas. A selecção de longas metragens foi no geral bastante sólida, filmes que vi apenas em Annecy tive o prazer de voltar a ver, filmes que tinha visto no Cinanima soube apreciar ainda mais, excelentes masterclasses, óptimas retrospectivas, uma exposição espectacular no Museu da Marioneta, e um bom convívio com os meus amigos do ramo. Uma vez que a Monstra celebrou uma data redonda, este ano foi como qualquer outra festa de aniversário: por muito perfeito que queremos que tudo esteja, há sempre um copo de champanhe que se parte, mas ninguém leva a mal.
Parabéns à Monstra, parabéns ao Fernando Galrito e ao Miguel Pires Matos por mais um festival, e continuação dos festejos, vemo-nos para o ano.